sábado, 7 de novembro de 2015

Não tarda que uma nova troika desembarque em Lisboa...




(Os meus programas preferidos:  os próximos debates quinzenais no Parlamento...)


No meio da conversa metafisica sobre a alegada legitimidade ou ilegitimidade do putativo governo António Costa, as notícias que realmente contam têm passado desapercebidas.  Primeiro, um pequeno perigo que pode deitar abaixo todo o edifício construído por uma esquerda que não consegue medir o efeito da sua inesperada ascensão ao governo.  A agência de ratting canadiana DBRS (a única das quatro grandes que não desceu a divida portuguesa à categoria de “lixo”)  avisou na terça-feira que admite fazer descer um degrau à nossa papelada. 
Se isso vier a acontecer, não será permitido ao BCE comprar dívida portuguesa  (de que em larga escala nós vivemos),  nem aos bancos dar dívida portuguesa como colateral do dinheiro que andam por aí a pedir;  e não tarda que uma nova troika desembarque em Lisboa.
(...)

(Vasco Pulido Valente, PÚBLICO - 7 Nov 2015)


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Se um mar não trava o desespero, pode um muro alguma vez parar?






Perseguidos, roubados e humilhados:

Na fronteira do desespero


Ficar onde estavam não era opção.  Se a morte não os apanhasse, apanharia certamente um dos seus.  Ou vários dos seus.  Por isso deixaram, deixam e deixarão os países onde nasceram e viveram.   E fazê-lo contra a vontade não é capricho, mas sobrevivência. 
E primeiro era o mar, que se tornou para uns (tantos, tantos) um cemitério, a separá-los do que ansiavam alcançar cá, neste lado onde estamos e onde eles vêem (esperam, sonham) esperança e dignidade. 
E depois do mar, agora há muros entre eles e nós, como este na fronteira entre a Hungria e a Sérvia.   Estivemos lá e é lá que regressamos consigo numa experiência multimédia que é experiência de vida. 

Se um mar não trava o desespero, pode um muro alguma vez parar?

(João Santos Duarte e João Roberto)

Ler a reportagem completa na Hungria em:
(Expresso online - 02/Set/2015)


quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Syriza já está destruído, podemos agora salvar a Grécia?





Chegará o momento em que tiraremos as mãos das carteiras e as poremos na consciência.   Chegará o momento em que já não veremos os ricos que roubaram mas os pobres que ficaram.   Em que não quereremos ressarcimento mas reparação.   Em que perceberemos que não se pede sequer solidariedade, mas piedade.   Em que nem os sádicos se divertirão com a espetáculo degradante dos políticos gregos.   A União Europeia foi longe de mais na violência estéril e vingativa.   Para destruir o Syriza está a ceifar-se um povo.   Já não é indignação, é súplica: SOS Grécia.   E se tudo o resto falhar, apele-se à inteligência, que não é de esquerda nem de direita, pois é preciso mudar aquele plano que, além de horrível, é burro, é mau, é pior para todos.

Nos palácios de Bruxelas, nos sofás de Berlim ou mesmo nos bancos de jardim de Lisboa permanece apetecível distribuir culpas e medir ideologicamente o debate.   Mas nas ruas de Atenas já passámos essa fase.   Sobra o desespero de saber que nada vai valer a pena porque pagar ou não pagar parece indiferente, o tudo ou nada resultará sempre no pouco, no de menos, no insuficiente, porque o plano não funciona.   Repito: a Grécia vai ter uma recessão pior do que a que os Estados Unidos viveram na Grande Depressão de 1929.   Repito: o plano económico vai falhar porque foi concebido para falhar.   Repito: desistimos dos gregos e resistimos a ver o desastre encomendado.

O bloco liderado pela Alemanha ficou tão furioso com o desplante do senhor Alexis Tsipras na marcação do referendo que quis devolver-lhe em dobro a lição de superioridade.   Até se percebe a fúria, que segundo os relatos da reunião de domingo do Eurogrupo fez com que o senhor Wolfgang Schäuble berrasse.   Alexis Tsipras foi arrogante, marcou um referendo pérfido e achou-se nimbado de invencibilidade com os resultados, como se fosse dar uma tareia moral aos demais estados membros.   Mas a Alemanha quis tanto destruir o Syriza, por vingança e por dissuasão a que outros países elejam partidos radicais, que perdeu a noção da força.   Mais um pacote recessivo vai destruir mais economia e mais emprego numa economia já exangue.

A vitória sobre Tsipras foi retumbante.   Até o perdão da dívida, que o Syriza sempre reivindicou, é agora formalmente admitida pelo FMI, mas de forma a culpar o partido, que não tem nada para mostrar.   É ridículo ouvir Alexis Tsipras dizer que assinou um acordo em que descrê.   É degradante vê-lo tripudiar o próprio Syriza e ancorar-se nos deputados dos partidos que detesta e que o detestam a ele.   É assustador ouvir a presidente do Parlamento (que pertence ao Syriza e se junta aos 40 deputados que se afastaram de Tsipras) falar em genocídio social.   Mas a humilhação suprema talvez seja ver Tsipras dizer que não há alternativa.   Tsipras, o temível mastim indomável, está amestrado como um caniche.   Dá dó.   A direita rejubila.   Também dá dó.   Porque ninguém pára, escuta e olha para perceber na loucura que estamos a patrocinar.

A loucura de ver um povo desesperado que, depois de cinco anos de austeridade duríssima, tem prometida nova dose de austeridade duríssima.   A loucura de tornar o pagamento da dívida mais insustentável do que nunca, pela destruição económica provocada – se a Grécia sai do euro, os credores podem esquecer, vão receber raspas.   A loucura de segregar dentro da União Europeia, cavando um fosso que nos vai apartar sabe-se lá até que lonjuras.

A Grécia só se livra desta sarna se, além do perdão de dívida que de qualquer forma terá, tiver um programa de estímulo económico.   O mundo, aliás, só recuperou da Grande Depressão dessa maneira.   Percebe-se a pulsão de obrigar o país a adotar as reformas estruturais nunca adotadas, incluindo a de ter um Estado que funcione e que cobre impostos.   Mas não é destruindo o espaço político e aniquilando a economia que tal vai ser conseguido.   A violência na Praça Syntagma é desenrolada por grupos anarcas ruidosos as pouco representativos.   A miséria que se alastra, não: é de todos.

É preciso mudar o plano.  Somar à austeridade um programa de investimento que estimule a economia e que apoie casos sociais de pobreza.   Isso é ser inteligente, até porque é a única forma de tentar recuperar parte da dívida.   Talvez a linha dura dos alemães queira apenas humilhar o Syriza e tenha feito um plano para que, depois da capitulação de Tsipras, mude o plano para melhor.   Até seria bom que isso fosse verdade.   Seria maquiavélico mas, ao menos, saberíamos que a loucura iria mudar.   E que, portanto, a Grécia haveria de ter saída da crise em vez de uma saída do euro.   Para já, o que vemos é o que temos, um país inteiro a afundar-se na desgraça.

Os gregos estão desesperados porque a situação é desesperante.   Coloquemo-nos no lugar deles por um minuto: um governo de extrema esquerda ajoelhado depois de cinco anos de tareia, de desemprego e de austeridade, depois de décadas de corrupção e roubo institucionalizado com os governos de centro.   E o que lhes dizem que se segue?   Pobreza.   Talvez a esta hora também estivéssemos na rua.

(Pedro Santos Guerreiro, Expresso online, 16/07/2015)


sábado, 20 de junho de 2015

Isto é BULLYING EUROPEU: - a destruição da Grécia em nome de uma mentira!





O PODER DOS LOUCOS

Parece um debate de loucos.   As instituições europeias pedem à Grécia que se comprometa com metas em que só um doido varrido acredita.   Para conseguir equilibrar as contas públicas, o Estado grego teve de arrasar a economia, deixar o endividamento público chegar a uns inacreditáveis 177% do PIB, pôr mais de um quarto dos gregos no desemprego e uma grande parte deles a viver abaixo do limiar de pobreza.

O que as instituições europeias estão a fazer à Grécia é Bullying.   O resultado pode ser a saída grega do Euro.   Não sei, não sabe ninguém, porque nunca foi experimentado as consequências de tal passo para os gregos e para a Europa.

Tenho lido que a Grécia se tem mostrado irredutível perante os credores.   Que não aceita.   Que é teimosa.   Que é radical.   Não há negociação possível quando um dos lados pede o impossível.   Se o Governo grego aceitasse estas metas estaria a mentir aos europeus.   E, depois disso, a destruir a Grécia em nome de uma mentira.   

As medidas que a Europa quer impor à Grécia  (aumento de impostos ao consumo e mais cortes nas pensões)  teriam um efeito devastador na já devastada economia grega.   Tornando ainda mais improvável o que, na realidade, já é impossível:  - pagar a dívida.

É difícil acreditar que a Comissão, o BCE e o FMI acreditam que a Grécia pode conseguir nos próximos dois anos, no meio da crise em que está, o que metade dos países europeus nunca conseguiu na última década.   E se não estão loucos e não acreditam, desejam uma de três coisas:   - que o Governo lhes minta, para aplicar medidas inúteis que provem que a Grécia vergou, que decida sair do euro ou que sugue o que resta do país para mais tarde sair do euro.

Se se tratar da tentativa de saque, ela representa o fim moral da União:  - um credor não pode acabar com um país para cobrar dívidas, assim como não pode acabar com a vida de alguém para reaver o dinheiro.   Se for uma das outras duas possibilidades, a motivação destes credores é política:  - impedir que mais algum povo pense que o seu voto pode mudar a Europa.   Trata-se de um golpe de Estado.

O que as instituições europeias estão a fazer à Grécia é bullying.   O resultado pode ser a saída grega do euro.   Não sei, não sabe ninguém, porque nunca foi experimentado, as consequências de tal passo para os gregos e para a Europa.   E este é o segundo sinal da loucura:  - há imensos responsáveis políticos por essa Europa fora que têm a certeza de que uma União que está há seis anos enredada numa crise de que os outros já saíram está preparada para os efeitos do “Grexit”. 

Não sei se os gregos resistiriam ou não a esse passo para a sua liberdade.   E não sei se a Europa e nós próprios aguentaríamos a sucessão de acontecimentos imprevisíveis que tal passo desencadearia.   

Sei que as certezas de tantos, que inventam convicção onde só podem ter dúvidas, são um excelente barómetro da irresponsabilidade política que grassa pela Europa.   E ela explica quase tudo sobre esta negociação.

(Daniel Oliveira, in Expresso, 19/06/2015)



TROIKA - A NOVA ORDEM EUROPEIA !!!



OS SEGREDOS DOS RESGATES FINANCEIROS!!!




AS ORIGENS DO CANCRO DA EUROPA!



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Aqui te deixo, saudosamente, uma rosa branca sobre o teu caixão…





Não podia ter acontecido...  assim!


Dói.  Como há muito não doía...
Nunca contei que partisses antes de mim.
E jamais pensei que me doesses tanto assim,
esta dor que sufoca que se instala e não sei bem 
donde vem.
Sei apenas que vem de dentro,  
das profundezas de mim.

E  lembro com saudade os dias felizes 
de quando menina te conheci.
Depois...  foram longos os anos dos desencontros.
Longos também os anos de lonjura e desinteresse
até quase me esquecer de ti.
Mas eu sabia que tu estavas aí
e isso me bastava.

E agora…  agora que partiste fazes-me falta.
Porque eu queria saber-te sempre viva,  
imortal.  
E agora...  agora que arrefeces assim,
também eu sinto este frio de morte,     
a sensação profunda deste vazio gélido, 
mortal.

Nós errámos a vida.  Fizemos tudo mal. 
E agora…  agora só me resta esta amargura,
esta certeza de jamais poder voltar atrás.
O nosso tempo acabou.  
Definitivamente! 
Não mais te verei para todo o sempre, 
na eternidade da tua sepultura.

Afinal...  sei-o agora, 
nunca chegaste a sair de todo cá de dentro.
Descansa em paz.

(13/Janeiro/2015)




terça-feira, 13 de janeiro de 2015

PARIS - A monumental demonstração da HIPOCRISIA europeia!!!






Europa terrorista 
A quadrilha que vai liderar a manifestação de Paris prostituiu a Europa, matou os projetos de Vida



Os massacres de Paris não vão ter alguns dos principais autores no banco dos réus.   Foram abatidos durante a refrega que pôs termo à chacina gratuita de inocentes.   Mas lá se sentarão, mesmo que só a História os julgue, os poderes fundamentalistas gerados no Yémen e o conjunto de personalidades que hoje encabeça a manifestação de Paris. 

A explosão afetiva e solidária ‘Je Suis Charlie’ é património de poucos.   Não é, de certeza, pertença desta Europa cínica, protetora de ladrões e especuladores financeiros, que há muito se borrifou para os sonhos da Igualdade, da Liberdade e da Fraternidade, gerados no ventre francês e que emigraram por esse mundo fora.   Pois o problema é político.   Nunca foi religioso. 

Os presidentes, os primeiros-ministros e outros acólitos que hoje desfilam em França em defesa da liberdade de expressão são os seus carrascos.   Nunca leram o ‘Charlie Hebdo’.   Apenas bebem as palavras de Merkel.   São como os assassinos, que nunca viram o Corão, muito menos o estudaram, e matam em nome do Profeta.   A quadrilha que vai liderar a manifestação de Paris prostituiu a Europa, mentiu nos sonhos, matou os projetos de Vida. 

Esta quadrilha quis emigrantes para a mão de obra escrava e desprezou o valor do trabalho.  Desprezou o emprego.   Desprezou a escola e a educação.   Atirou para a fome e para a ruína milhões de desgraçados.   Mas pior do que isto, a Europa cínica que hoje habitamos matou a Europa de Monet.   Fez da União Europeia uma pantomima, aceitou de joelhos os ditames da Alemanha que fala por nós, contra nós, imperialismo da especulação que matou sonhos.   Quem mata sonhos não pode esperar outra coisa a não ser a multiplicação da raiva, da indignação e, finalmente, do ódio. 

Estes grupos em desvario são europeus.   Nasceram aqui e matam por ódio.   E as maiores vítimas até são muçulmanos.   Ódio, porque lhes prometeram sonhos e lhes entregaram um imenso vazio.   Um vazio onde habitam milhões de outros jovens a quem mataram os sonhos, que não assassinam, mas se desinteressam da política, desprezam os figurões que vão marchar à cabeça da manifestação em Paris, servos e serventuários de especuladores, de offshores, de roubos, não de joias mas de países.   Reprodutores de desigualdades, semeadores de injustiças, párias da fraternidade, amigos da liberdade de saque. 

É esta a Europa cínica, e canalha, que aceitou o apelo de Hollande e vai fazer de conta que é amiga da liberdade de expressão.

(Francisco Moita Flores CM, 11/01/2015)



sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

«Eles não têm coragem para me prender»





Depois de sucessivos escândalos a escapar por entre os pingos da chuva, as pessoas foram-se habituando à impunidade de Sócrates


Uma frase proferida por José Sócrates em conversa telefónica com o seu amigo Carlos Santos Silva, pouco antes de ser detido - «Eles não têm coragem para me prender», é duplamente reveladora.   Em primeiro lugar, parece ser uma admissão de culpa:   Sócrates não diz que está inocente, diz é que os juízes não serão suficientemente corajosos para o meter na cadeia.   Uma pessoa que se sinta inocente não faz, em princípio, uma afirmação destas.   Por outro lado, Sócrates mostra-se possuído por um sentimento de 'impunidade'.   Acha-se colocado num tal pedestal, detentor de um tal estatuto, que ninguém ousará deté-lo.   Mas donde virá esta  sensação de impunidade?

Julgo que não apenas Sócrates a interiorizou, mas muitos portugueses.   Depois de sucessivos escândalos que terminaram sempre da mesma maneira, com o ex-primeiro ministro a escapar por entre os pingos da chuva, as pessoas foram-se habituando.   «É mais um escândalo de que ele se vai safar» - pensavam.

Depois das dúvidas, suspeições, trapalhadas e coisas mal explicadas existentes nos casos da Cova da Beira, dos mamarrachos, do diploma, do Freeport, do Face Oculta, do Taguspask, etc. - nos quais o nome de Sócrates aparecia sempre envolvido e que acabavam sempre em águas de bacalhau, a suspeição relativamente ao ex-primeiro ministro banalizou-se.   Perante cada novo caso, os amigos encolhiam os ombros e os inimigos já não acreditavam que Sócrates viesse a ser criminalizado.   Era como na fábula de Pedro e o Lobo.   E quando a detenção chegou, foi uma surpresa para quase todos.

Escrevi por diversas vezes que Sócrates é «o Vale e Azevedo da política» e sempre admiti que, tal como o ex-presidente do Benfica, havia fortes hipóteses de ele vir a ser detido depois de deixar o cargo.   Porquê?  Porque eu tinha a quase certeza que a corrupção estava lá – só faltava descobri-la.

Assim, quando José Sócrates saísse cle S. Bento e os responsáveis da Justiça, Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento, fossem substituídos, era muito provável que a verdade viesse ao de cima.   E assim aconteceu.

(José António Saraiva - extracto de artigo publicado no SOL – 02/01/2015)