sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Na última sexta-feira, Passos começou a perder Portugal

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Na semana passada ocorreu um inclassificável golpe terrorista contra o povo português.   Não meteu explosivos, nem armas, nem aparatos de rua.   Limitou-se a um discurso do chefe do governo difundido antes de um desafio de futebol.   Esse discurso anunciava a condenação, por via fiscal, à fome, à doença, ao desespero, ao aviltamento de milhões de pessoas por perversão de governantes sem um pingo de decência.   A intervenção, lida de lábios cerrados, não disfarçava ressabiamentos, provocações, vinganças – lembrando as de apaniguados de Sócrates a avisar que quem se metesse com eles, levava.
Ora quem se meteu a sério com o governo não foram as oposições, foi o Tribunal Constitucional e a troika, ao atribuir a situação portuguesa à sua (in)competência.   Repreendidos e traídos, os boys de São Bento entraram de congeminar vingança.   Se em relação aos patrões (externos) fingiram não perceber a acusação, em relação aos opositores (internos), não – daí a desforra:   afrontaram o TC, alfinetaram o PR, enxovalharam os partidos, rapinaram os trabalhadores, declararam lixo os reformados e pensionistas, tratando todos como débeis mentais.  
Muito poucas vezes se viu tanta insensibilidade, arrogância, hipocrisia, mentira juntas!   “Lavra no país um grande incêndio de ressentimento e ódio”, afirma (em carta aberta ao primeiro-ministro) o escritor Eugénio Lisboa que, dos seus 82 anos, lhe grita:   “Todo o vosso comportamento não convida à esperança!”   Às 19h20 da última sexta-feira, Passos começou a perder Portugal.

(Por Fernando Dacosta, publicado no "I" em 13 Set 2012)

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1 comentário:

O meu pensamento viaja disse...

Excelente!
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Beijo da Nina