sábado, 5 de março de 2011

Sócrates chamado a Berlim - ainda o filme (parte III)

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É o 'beijo da morte' de Angela Merkel.   Será que ele percebeu?

Quando tudo está contra nós, tendemos a procurar o conforto dos que nos amam ou dos que nos podem dar a mão.   Não contando o afecto para este campeonato, Sócrates foi a Berlim procurar mão amiga.   E, por um tempo que ninguém consegue adivinhar, conseguiu - não a amizade ou a mão mas um novo fôlego.   Que pode ser o último.

O processo - este processo que vai longo - está cheio de percalços e frustrações.   Recuemos apenas um ano, o último.   Foi-nos dito que era essencial para os mercados acalmarem e nos olharem com algum respeito.   E o que é que era preciso?   -Termos um orçamento como deve ser, devidamente adequado às circunstâncias.   Ou seja: um orçamento restritivo que acabou viabilizado por Manuela Ferreira Leite.

Durou pouco e Sócrates foi ficando isolado - apesar do tango com Pedro Passos Coelho, além da foto no BlackBerry de Catroga.   O desgaste do poder associado à desconfiança dos mercados foi moldando o curto prazo que hoje asfixia o primeiro-ministro.   Sócrates vai sobrevivendo com recurso aos números que vai soltando sempre que se sente cercado.   E, à medida que a realidade vai desmentindo esses números, vai apresentando outros, num número que produz efeito mas que tem, inevitavelmente, um prazo limitado no tempo.
Em Berlim, Sócrates preparou o cenário.   Vestiu o seu melhor fato, arregimentou o seu ministro de maior respeitabilidade e adornou o take com alguns números pontuais que, para os mais incautos, se assemelham a um brilharete.   Será assim?  - É.  Para consumo interno.

O enredo da ficção é óbvio:   Sócrates fez o seu papel, teve os seus 15 minutos de glória, criou a ilusão de que, no processo de decisão, ele está ao nível de Merkel.   Estes 15 minutos permitem mais 15 dias de desafogo.   Tudo bem, para quem já só pensa no dia seguinte.   A chanceler alemã é a menos ingénua deste filme.   Pressionada pela opinião pública interna e pela lógica partidária, Merkel fez o que mais lhe convinha:  - elogiou Sócrates, tomando como bons os números que ele apresentou.
Ora, se está tudo bem, se este é um homem fiável, não há razões para que a Alemanha - e, quem sabe, o Banco Central Europeu - canalize mais fundos para um país como Portugal.   Este é um assunto encerrado e a chanceler alemã lava as suas mãos.   Mais:   surfa a onda para cortar qualquer efeito de contágio entre o problema português e o espanhol.   Esse sim, de real dimensão europeia.

Sócrates, inebriado pelos elogios, regressou feliz e terá que fazer pela vida.   Sem rede, nem cumplicidades.   Não percebeu o beijo de morte.   Ou será que percebeu?

(Por Raul Vaz, in Económico em 04/03/11) (Imagens e negritos da autoria do blog)


Bem, este foi o guião.   O filme é já a seguir.   Sem "intervalo" e sem direito a pipocas!   Muito menos a bolas de Berlim...

(clicar nas fotos...  para ver o filme em "3D")


 
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