domingo, 25 de abril de 2010

O 25 de Abril... para memória futura

O cravo virou crisântemo... propõe-se que passe para 2 de Novembro, dia dos finados.

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Trinta e seis anos depois, instalou-se a desconfiança, a desilusão, a sensação de fraude generalizada. Quem fez e viveu a Revolução ou se instalou no poder – os que repetem o mesmo discurso vazio em qualquer data importante ou ocasião solene – e nas mordomias a ele associadas ou se afastou dos centros de decisão, afundando-se na amargura e na falta de fé numa mudança. É transversal, este sentimento, mas é mais forte na gente de esquerda, os que se sentem traídos por uma Revolução que nunca se cumpriu.

Pode-se compreender este baixar de braços, mas é mais construtivo questionar as razões da desistência. As gerações que se seguiram – a minha, geração rasca, as que virão – estão a sofrer na pele as consequências deste desânimo e acomodamento. O trabalho precário tornou-se regra, e não se vê qualquer vontade, em qualquer partido, de acabar com este estado de coisas. Os licenciados que ganham menos de 600 euros (geração 1000 euros, como em Espanha, o que é isso?) e trabalham a recibos verdes são o futuro do nosso país. Percebe-se onde isto vai, inevitavelmente, levar. O que fazem os pais, os que ainda têm a sorte de manter um emprego no Estado? Com muito boa vontade, continuam a alimentar os filhos até estes chegarem uma idade em que se vêem perdidos na encruzilhada da sua própria derrota.

Os antigos revolucionários, que exultavam com a vitória da liberdade, agora acomodam-se a uma classe política corrupta, incompetente, e que parece pior a cada encarnação, adaptam-se às regras do liberalismo económico, que ainda por cima não funciona como devia: por cá, o capitalismo aproxima-se mais de uma espécie de corporativismo de fachada – é verdade, e é uma pena afirmar isto, mas neste aspecto não estamos muito longe do Estado Novo.
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(Excerto de 25 de Abril, in Arrastão, de Sérgio Lavos, aqui)

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